quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Rio de Janeiro

Rio Branco fechada ganharia dois mergulhões

O Globo, Isabela Bastos, 03/set

O projeto da prefeitura de transformar a Avenida Rio Branco num imenso parque de dois milhões de metros quadrados deverá fazer com que o Centro ganhe mais dois mergulhões, a exemplo da Praça Quinze. Eles seriam construídos nas interseções da Rio Branco com as avenidas Nilo Peçanha e Almirante Barroso. Os carros oriundos dessas vias usariam passagens subterrâneas a caminho da Rua da Carioca e da Avenida Chile.

O projeto, apelidado de Rio Verde, prevê ainda a construção de pelo menos duas grandes garagens no subsolo, para compensar a restrição ao tráfego na avenida e a proibição do estacionamento na superfície.

Concessionário terá que conservar todo o espaço

O número de vagas e a localização dos estacionamentos subterrâneos ainda serão estudados, mas a Rua México e a Avenida Graça Aranha estão cotadas.

Segundo o secretário municipal de urbanismo, Sérgio Dias, o projeto pretende garantir que o vencedor da licitação para a construção do parque se comprometa com a manutenção de todo o espaço. O objetivo é evitar problemas de conservação como os do mergulhão da Praça Quinze e de outras áreas públicas. Em troca, o concessionário teria o direito de explorar as garagens e os serviços de bicicletas, carrinhos elétricos e ecotáxis previstos na concepção do parque.

- Eles poderão explorar garagens, bicicletas, carrinhos e outros serviços, mas terão que manter gratuitamente esteiras rolantes, por exemplo - disse o secretário.

Dias informou ainda que o projeto não inclui os 500 metros iniciais da Rio Branco, entre a Praça Mauá e a Candelária, porque o trecho será importante na reorganização do trânsito prevista na revitalização da Zona Portuária. Já os ônibus que hoje passam pela Rio Branco circulariam pelas avenidas Passos e República do Paraguai.

Mas a opção de seguir pela Avenida Presidente Vargas até o mergulhão da Praça Quinze não deixaria de existir.

O projeto de fechamento da Rio Branco, com diminuição de 70% da frota de ônibus na região, dividiu opiniões de urbanistas, arquitetos, engenheiros e representantes de entidades comerciais, de transporte e da sociedade civil. Parte dos entrevistados apontou os aspectos positivos que a redução da circulação de veículos traria para o meio ambiente, como a diminuição da emissão de gases poluentes.

Já outros alertaram que o projeto precisa prever alternativas de transporte público de massa, que compensem a retirada dos coletivos e permitam a reorganização das ruas, diminuindo os engarrafamentos.

Câmara dos Dirigentes Lojistas elogia o projeto

O assunto também dividiu os leitores do GLOBO na internet. Numa enquete em que o site perguntava se o fim dos carros na Rio Branco faria bem à cidade, 49,76% dos 1.509 internautas se mostraram a favor do parque e da restrição aos veículos, sob o argumento de que o trânsito do Centro já está saturado e a medida diminuiria a poluição.

Outros 50,23% alegaram que o fechamento da Rio Branco sobrecarregaria outras vias. Os que se colocaram contra a ideia apontaram o transporte público como um obstáculo.

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Rio, Carlos Monjardim, aprovou a ideia do parque. Segundo ele, as mais de 400 lojas de rua que funcionam hoje somente ao longo da Rio Branco só teriam a ganhar com a iniciativa. Ele ressaltou ainda que, junto com a revitalização da Zona Portuária, o fechamento da avenida poderia dar um impulso econômico relevante ao Centro da cidade.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, classificou a proposta de ousada. Ele acha importante que a prefeitura discuta o assunto com especialistas e submeta a ideia à avaliação pública. O arquiteto e urbanista Canagé Vilhena considerou a redução e reorganização das linhas de ônibus um dos pontos mais importantes.

Ele comparou a proposta ao "bota abaixo" realizado pelo prefeito Pereira Passos, no início do século passado, para abrir a antiga Avenida Central, depois rebatizada de Rio Branco.

O historiador Milton Teixeira lembrou que grandes cidades em outros países já tiveram experiências bem-sucedidas nesse sentido, como Boston, nos Estados Unidos, que transformou sua principal avenida num grande bulevar: - É uma mudança radical no Centro. Vai precisar de um trabalho de reengenharia de trânsito muito bom.

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